terça-feira, 20 de outubro de 2009

Matéria “Projetores cinematográficos voltarão a funcionar dia 29” publicada no Jornal Correio de Uberlândia no dia 08/08/2008

Filmes em 35 mm serão exibidos na Casa da Cultura no bairro Fundinho


Único remanescente do apogeu dos cines teatros de Uberlândia em meados do século 20, o teatro Grande Otelo, no bairro Aparecida, está desativado há seis anos e com as obras, iniciadas em 2002, paralisadas. Enquanto a Secretaria de Cultura reivindica R$ 2,5 milhões para reformar o prédio na avenida João Pinheiro, mediante projetos de incentivo cultural, o equipamento do antigo Cine Vera Cruz, instalado no andar superior do edifício, será desmontado, restaurado e instalado na Casa de Cultura, no bairro Fundinho. A nova sala de exibição será inaugurada no dia 29.

Mas restaurar o exibidor 35 milímetros a carvão da Empreza Cinematográfica Triunfo Canteruccio e Lamanna, hoje desativado e empoeirado, vai exigir um trabalho minucioso.

“Ainda não retiramos, porque vamos filmar a desmontagem do equipamento, para rever a fita na montagem. O projetor será colocado em funcionamento na sala de audiovisual da Casa da Cultura”, afirmou a secretária de Cultura, Mônica Debs. O segundo projetor também vai ser desmontado e enviado para o Museu do Restauro, na avenida Getúlio Vargas, Centro. “Ele também vai ser colocado em funcionamento”, disse Debs.

Com capacidade para 600 espectadores, as projeções do Cine Vera Cruz animaram uma geração de uberlandenses antes da década de 80. O diretor e ator de teatro Tião Cassimiro lembra bem a época. “Era uma atração, porque a grande diversão da época era o cinema. O Vera Cruz dividia espaço com o Cine Uberlândia, na avenida Afonso Pena, onde depois foi o Cine Bristol. Ia ver os filmes com gibi na mão”.

Cassimiro afirma que o Vera Cruz era mais popular do que os cinemas da região central. Do outro lado da praça, na área pertencente à igreja Católica, havia outro cinema, o Dom Bosco. “Assisti a muitos filmes ligados ao catolicismo no Dom Bosco. Passavam filmes, como os do Mazaropi, com temas exemplares para a família”. O bairro ainda era chamado de Operário, mas a igreja Nossa Senhora da Aparecida e a religiosidade no entorno também exerciam influência na programação do Vera Cruz, geralmente mais comercial. “Na Semana Santa, os filmes sobre a paixão de Cristo formavam grandes filas”, afirmou Cassimiro.

Artistas pedem maior espaço

No fim de julho, um dos integrantes do grupo Galpão, após a apresentação no estacionamento do Teatro Municipal, reclamou da situação em que se encontra o teatro Grande Otelo. “Recebo como uma coisa normal. O único bem não recuperado é ele, mas não por falta de vontade ou trabalho”, afirmou a secretária de Cultura, Mônica Debs.

Para a presidente da Associação de Teatro de Uberlândia (ATU), Kátia Bizinotto, há público e grupos teatrais em número suficiente na cidade para que funcionem os três teatros (Rondon Pacheco, Municipal e Grande Otelo). “Na Mostra de Teatro, neste ano, ficou claro que estamos em um período de recuperação do público. Hoje, ele não cabe mais nos espaços que temos. Mas não é apenas o público. Há demanda também por parte dos vários grupos que produzem arte na cidade.”

Na avaliação do diretor e ator teatral Tião Cassimiro, há carência de teatros de menor porte em Uberlândia. O Grupo Davi, que ele dirige, atualmente ocupa o anfiteatro da antiga sede da rádio Educadora, na rua Bernardo Guimarães, Centro. O local tem capacidade para 125 pessoas sentadas. “Lamento que o teatro Grande Otelo esteja jogado às traças, porque, com a demanda atual, ele faz falta.”

Opinião defendida pela diretora do grupo UAI Q Dança, Fernanda Bevilaqua. “Pelo número de habitantes de Uberlândia e o tamanho da cidade, foi uma perda a desativação do teatro Grande Otelo. A gente precisa e merece aquele espaço”.
Enquanto não é reformado, o único artista que freqüenta o teatro no bairro Aparecida é João Carlos Baptista de Paula.

Funcionário da Secretaria de Cultura, além de vigiar o Grande Otelo, cuida do palco do teatro Rondon Pacheco. Natural do Rio de Janeiro, ele ganhou o apelido Carioca, quando se mudou para Uberlândia há seis anos. Como chegou na cidade com o teatro Grande Otelo já fechado, João Baptista guarda outras recordações. “Sempre trabalhei com palco. Montei espetáculo do Cazuza, do Beto Guedes, do Milton Nascimento. Fiz muito Circo Voador, ô saudade.”

Secretaria aguarda aprovação

A Secretaria de Cultura aguarda a aprovação dos projetos de incentivo, estadual e federal, para reformar o teatro Grande Otelo. Os custos da obra foram estimados em R$ 2,5 milhões. Depois de alterações na fachada e na parte interna, o teatro passará a ter 341 lugares. “O projeto foi encaminhado em 8 de abril para a aprovação do Ministério da Cultura. Normalmente, essas aprovações são anuais”, afirmou a secretária de Cultura, Mônica Debs. Não há previsão para o reinício das obras, paralisadas em 2002.

Mônica Debs disse que as obras do Teatro Municipal, na avenida Rondon Pacheco, são prioritárias. “Por causa das ferragens expostas, a prioridade era o Teatro Municipal. Estamos investindo, mas nenhuma administração toca duas construções de teatro ao mesmo tempo.”

O teatro Rondon Pacheco, na rua Santos Dumont, Centro de Uberlândia, teve a infra-estrutura melhorada para receber apresentações artísticas. “Melhoramos o equipamento técnico, a mesa de som e de luz, o palco, as cadeiras foram reformadas duas vezes, a cortina, o teatro Rondon Pacheco foi todo pintado.”

Mas enquanto o dinheiro para a reforma não chega, o teatro Grande Otelo está em “estado completo de deterioração”, de acordo com um trecho do próprio projeto. No documento, a intervenção é considerada “urgentíssima”. “Estamos precisando de recursos”, afirmou a secretária, convocando o empresariado da cidade a investir no projeto de reforma do teatro Grande Otelo.

Arthur Fernandes

Repórter

Jornal Correio de Uberlândia

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