Renata Tavares
Repórter
Espaço aberto
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Filmes em
Único remanescente do apogeu dos cines teatros de Uberlândia em meados do século 20, o teatro Grande Otelo, no bairro Aparecida, está desativado há seis anos e com as obras, iniciadas em 2002, paralisadas. Enquanto a Secretaria de Cultura reivindica R$ 2,5 milhões para reformar o prédio na avenida João Pinheiro, mediante projetos de incentivo cultural, o equipamento do antigo Cine Vera Cruz, instalado no andar superior do edifício, será desmontado, restaurado e instalado na Casa de Cultura, no bairro Fundinho. A nova sala de exibição será inaugurada no dia 29.
Mas restaurar o exibidor
“Ainda não retiramos, porque vamos filmar a desmontagem do equipamento, para rever a fita na montagem. O projetor será colocado em funcionamento na sala de audiovisual da Casa da Cultura”, afirmou a secretária de Cultura, Mônica Debs. O segundo projetor também vai ser desmontado e enviado para o Museu do Restauro, na avenida Getúlio Vargas, Centro. “Ele também vai ser colocado em funcionamento”, disse Debs.
Com capacidade para 600 espectadores, as projeções do Cine Vera Cruz animaram uma geração de uberlandenses antes da década de 80. O diretor e ator de teatro Tião Cassimiro lembra bem a época. “Era uma atração, porque a grande diversão da época era o cinema. O Vera Cruz dividia espaço com o Cine Uberlândia, na avenida Afonso Pena, onde depois foi o Cine Bristol. Ia ver os filmes com gibi na mão”.
Cassimiro afirma que o Vera Cruz era mais popular do que os cinemas da região central. Do outro lado da praça, na área pertencente à igreja Católica, havia outro cinema, o Dom Bosco. “Assisti a muitos filmes ligados ao catolicismo no Dom Bosco. Passavam filmes, como os do Mazaropi, com temas exemplares para a família”. O bairro ainda era chamado de Operário, mas a igreja Nossa Senhora da Aparecida e a religiosidade no entorno também exerciam influência na programação do Vera Cruz, geralmente mais comercial. “Na Semana Santa, os filmes sobre a paixão de Cristo formavam grandes filas”, afirmou Cassimiro.
Artistas pedem maior espaço
No fim de julho, um dos integrantes do grupo Galpão, após a apresentação no estacionamento do Teatro Municipal, reclamou da situação em que se encontra o teatro Grande Otelo. “Recebo como uma coisa normal. O único bem não recuperado é ele, mas não por falta de vontade ou trabalho”, afirmou a secretária de Cultura, Mônica Debs.
Para a presidente da Associação de Teatro de Uberlândia (ATU), Kátia Bizinotto, há público e grupos teatrais em número suficiente na cidade para que funcionem os três teatros (Rondon Pacheco, Municipal e Grande Otelo). “Na Mostra de Teatro, neste ano, ficou claro que estamos em um período de recuperação do público. Hoje, ele não cabe mais nos espaços que temos. Mas não é apenas o público. Há demanda também por parte dos vários grupos que produzem arte na cidade.”
Na avaliação do diretor e ator teatral Tião Cassimiro, há carência de teatros de menor porte
Opinião defendida pela diretora do grupo UAI Q Dança, Fernanda Bevilaqua. “Pelo número de habitantes de Uberlândia e o tamanho da cidade, foi uma perda a desativação do teatro Grande Otelo. A gente precisa e merece aquele espaço”.
Enquanto não é reformado, o único artista que freqüenta o teatro no bairro Aparecida é João Carlos Baptista de Paula.
Funcionário da Secretaria de Cultura, além de vigiar o Grande Otelo, cuida do palco do teatro Rondon Pacheco. Natural do Rio de Janeiro, ele ganhou o apelido Carioca, quando se mudou para Uberlândia há seis anos. Como chegou na cidade com o teatro Grande Otelo já fechado, João Baptista guarda outras recordações. “Sempre trabalhei com palco. Montei espetáculo do Cazuza, do Beto Guedes, do Milton Nascimento. Fiz muito Circo Voador, ô saudade.”
Secretaria aguarda aprovação
A Secretaria de Cultura aguarda a aprovação dos projetos de incentivo, estadual e federal, para reformar o teatro Grande Otelo. Os custos da obra foram estimados em R$ 2,5 milhões. Depois de alterações na fachada e na parte interna, o teatro passará a ter 341 lugares. “O projeto foi encaminhado em 8 de abril para a aprovação do Ministério da Cultura. Normalmente, essas aprovações são anuais”, afirmou a secretária de Cultura, Mônica Debs. Não há previsão para o reinício das obras, paralisadas em 2002.Repórter
Jornal Correio de UberlândiaA construção do prédio que hoje abriga o Teatro Grande Otelo integra um amplo processo de urbanização da Vila Operária, ocorrido na década de 1960. Dentro deste contexto, repleto de transformações, a Praça Nossa Senhora Aparecida impõe-se como obra primordial, responsável pelo desenvolvimento de um ambiente sócio-cultural em um bairro até então considerado periférico e exclusivamente residencial. A inauguração de uma praça naquela localidade representou um fomento às relações sociais, na medida em que proveu os espaços de sociabilidade e lazer onde era possível encontrar pessoas e realizar atividades antes circunscritas ao centro da cidade. Os articulistas da época publicaram textos nos periódicos locais enfatizando os aspectos paisagísticos e arquitetônicos de um logradouro que, naquele momento, simbolizava o progresso e sofisticação da cidade
“A praça (...) é das mais modernas e bonitas do Brasil. Tem a estética funcional, perfeitas segundo os rigores da arte moderna aplicada à arquitetura. Uma fonte sonora-luminosa, fogos artificiais, jardins suspensos, concha acústica, palco para exibições teatrais e tudo mais”[1]
Como podemos perceber, a praça, projetada pelo arquiteto João Jorge Coury, além de ser um elemento de estetização do espaço urbano, era também um local apropriado à realização de eventos artísticos e culturais, fato que vem corroborar a hipótese de que o poder público pretendia promover o desenvolvimento de novos hábitos culturais na população da vila, considerando que uma cidade moderna e progressista precisava ter uma vida social efervescente. Neste sentido, poderíamos dizer que a construção da praça, e do cinema numa etapa posterior, simbolizaram, entre outras coisas, a tentativa de vencer o caráter provinciano do pequeno burgo através do incentivo ao comércio de entretenimento e da extensão das áreas urbanizadas, e potencialmente culturais, para além do limites centrais.
Na época em que foi inaugurado o Cine Vera Cruz (primeiro nome do hoje Teatro Grande Otelo), a imprensa foi enfática ao destacar a importância urbanística das diversas obras em construção naquele bairro, dentre as quais se destacam: a Praça Nossa Senhora Aparecida e o Ginásio Cristo Rei. Na noite de inauguração da praça, o vereador Calcir José Pereira proferiu um extenso discurso no qual evocava a história da vila e de sua evolução através dos anos, desde o pequeno núcleo inicial até às “extraordinárias” construções do presente.[2] O teor desta declaração, e de muitas outras congêneres, é naturalmente exaltado e de certa forma hiperbólico, pois, tratando-se de obras públicas, as autoridades políticas, sempre julgam necessário exagerar a beleza e relevância de suas obras para transmitir uma aparência de magnitude. Entretanto, cumpre mencionar estes discursos, para alertar sobre os aspectos simbólicos subjacentes ás obras em debate.
O projeto para o estabelecimento de um cinema na Vila Operária vinha sendo veiculado pela imprensa escrita desde janeiro de 1966, portanto, nove meses antes de sua efetiva inauguração. Durante todo este período que antecede o advento da casa cinematográfica, as matérias jornalísticas versam, geralmente, sobre problemas relativos à segurança pública e a aparência das vias e logradouros, ao mesmo em que enaltecem os projetos de edificações já iniciados. Em tais circunstâncias, o Cinema Vera Cruz surge como empreendimento seminal, visto que poderia tornar-se, juntamente com outros estabelecimentos, o pólo aglutinador e dinamizador de futuras ações. Talvez por esta razão, a obra tenha sido acompanhada com tanto interesse e assiduidade pela imprensa. Na edição do dia 07 de janeiro de 1966, no Jornal Correio de Uberlândia, foi publicada a primeira nota referente à construção do cinema. Neste texto, o colunista destaca o pioneirismo do empreendimento, ao colocar que este, quando inaugurado, seria a primeira casa de espetáculos a ser construída na periferia da cidade:
“FILHO DE UBERLÂNDIA INSTALA CINEMA
Segundo apurou nossa reportagem, esta sendo construído
O projeto e o cálculo da obra foram realizados pelo engenheiro civil Nelson Gonçalves Prado (cart. Prof. 2165 D – 4ª região do CREA) e aprovado na Prefeitura em 07 de janeiro de 1966. O terreno situado na Avenida João Pinheiro, nº 1789, tinha área de
A fase de construção deste prédio foi exaustivamente documentada pelo Jornal Correio de Uberlândia, que em suas seções culturais como “Trapézio” e “Divertimentos”, anunciou sucessivas datas de inauguração, muitas vezes canceladas devido a problemas de ordem técnica. Primeiramente, a inauguração estava prevista para julho, porém, no dia 02 de agosto, a obra ainda não havia sido concluída e, sem maiores explicações, o evento foi adiado para o dia 31 de agosto. Nesta ocasião, o jornal divulgou a provável data de início de atividade do cinema na coluna “Pessoas & Firmas” de Evangelista Ferreira, onde também foi informado um detalhe técnico específico da casa:
“P & F
VERA CRUZ – Quase concluído o prédio do Cine Vera Cruz (Empresa Teatral Vera Cruz LTDA) na Av. João Pinheiro, proximidades da Praça Nossa Senhora Aparecida. O equipamento “Phillips” já está sendo montado e a nova casa, primeira a ser construída no populoso Bairro Operário, será entregue nos próximos dias à população citadina...”[4]
Anúncios desse gênero foram publicados outras vezes e, quase sempre, primavam pelo tom enfático do texto, no qual percebemos a preocupação em reiterar a extrema relevância e o alcance social do projeto. Não obstante, parece evidente que tais ações não eram simplesmente iniciativas abnegadas visando ao bem estar da população da Vila Operária, considerando que havia um comércio cinematográfico em pleno desenvolvimento e que, diante da saturação do circuito na região central, os empresários buscavam novos campos para expansão da atividade. Prova disso é que a concessão seria explorada por uma nova empresa, a Empresa Teatral Vera Cruz Ltda., que ingressava no mercado como concorrente da firma já atuante.
Em 31 de agosto, a inauguração foi novamente cancelada sob a alegação de que as 600 poltronas estofadas não foram entregues no tempo previsto. O colunista responsável pela matéria aproveitou a ocasião para arrolar algumas características do estabelecimento que, segundo consta, traria novidades no que diz respeito à acomodação e ao conforto do público cinéfilo:
“Será inaugurado no dia 20 de Setembro próximo o moderníssimo Cine Vera Cruz, localizado na Praça Nossa Senhor Aparecida,
Na mesma edição em que se publicou esta notícia, havia outro artigo anunciando o cancelamento do evento de inauguração, fato que traduz a extrema confusão de datas que se fez na época e que também pode ser um sinal do grande alvoroço causado pela iminência de um acontecimento cultural de considerável importância para a cidade.
Somente em 29 de setembro de 1966, o jornal apresenta um artigo na coluna “Divertimentos” no qual confirma a inauguração para o dia 08 de outubro daquele ano. Neste texto aparece a primeira programação do Cine Vera Cruz para o período de
“Cinemeiros .... sabem a nova? Que que isso meu Deus... não sabem mesmo? só uns minutinhos, porque, porque, estão com pressa! A grande nova é ... a primeira e grande programação do “Vera Cruz”. Vejam só se não é barra limpa mora!
Dia 08 de Outubro no Cine Vera Cruz “Duelo na Cidade Fantasma”, cabe a Robert Tayor e Richard Widmark a honra de ser os primeiros astros a serem vistos na tela do Vera
Dias 09 e 10 de Outubro no Vera: “Honra a um Homem mau” staring James Gogney e Irene Papas.
Dias 11 e 12 no Vera: “Terei direito de matar”. Desempenhos empolgantes de Alain Delon, Leci Massari e George Geret.
Dias 15 e 14 no Vera: “Para agarrar um espião”, com Robert Vanglon e Patricia Grawlery.
Em seguida vem “o Sheik Vermelho”, dia 15; Os Criminosos não merecem prêmio, dias 16 e 17. E nos dias 18 e 19 “Ouro para os imperadores”. É ou não é algo mais?”[6]
Por ocasião das solenidades de inauguração, o Jornal Correio ainda veiculou outras manchetes exaltando a beleza, o conforto e a funcionalidade do novo cinema, que, na verdade, não tinha nenhuma peculiaridade que merecesse destaque, exceto o fato de estar situado em zona periférica. Isto significa que este cinema, embora não fosse algo extraordinário, era portador de um notável valor simbólico, uma vez que a sua fundação promoveu o alargamento do campo cultural, além de democratizar, em um certo sentido, o acesso ao entretenimento cinematográfico. Nessa perspectiva, acreditamos que a sua importância reside não na edificação, que de resto não apresenta significativo valor arquitetônico, mas no lugar ocupado por esta instituição no contexto sócio-cultural da época, quando grande parte das casas de espetáculo estava situada no centro da cidade. Assim, o cinema representa não só um aumento das possibilidades de vida social, mas também o crescimento do circuito, o que, por extensão, era visto como um indicativo do desenvolvimento cultural da cidade como um todo.
Em princípio, o cinema deveria apresentar uma seção diária de segunda a sexta e três sessões ao sábados e domingos, sendo uma matinê às 13h e duas sessões noturnas às 19 e 21h. Porém, já no mês de estréia, as sessões de domingo forma suspensas, bem como as matinês aos sábados. Como justificativa para esse ato, os proprietários alegaram “motivos de ordem técnica”[7], sem esclarecer de forma satisfatória esta atitude. Contudo, considerando a novidade da empreitada, podemos supor que o motivo da suspensão haja sido a escassez de público naquelas sessões de final de semana, pois nestes dias os freqüentadores dessas casas certamente preferiam os cinemas badalados do centro.
Inicialmente, o Cine Vera Cruz manteve uma programação independente, projetando exclusivamente filmes produzidos pela empresa Metro Goldwyn Meyer, com temas e gêneros bastante diversificados. Porém, já em fevereiro de
“Com o circuito dos mais jovens cinemas da cidade, ou seja, Vera Cruz e Avenida. Quem vai lucrar será o povo do Bairro Operário. Uma vez que antigamente o Vera Cruz tinha uma programação fraca e a maioria dos filmes era reprises.”[8]
Aparentemente, o Cine Avenida detinha a primazia sobre os lançamentos de filmes, de forma que ao Vera Cruz só era possível exibir filmes em segunda ocasião, ou seja, sua programação se restringia a filmes já estreados em outros cinemas, fato muito prejudicial para o público freqüentador daquela casa. Neste sentido, a união essa sala periférica e o “suntuoso” Cine Avenida foi alardeada como um grande aprimoramento do serviço prestado ao público da Vila Operária, quando na verdade a negociação e a própria criação do circuito eram estratégias mercadológicas dos empresários interessados em deter o monopólio no ramo do entretenimento cinematográfico.
Sejam quais forem as razões que levaram a este processo de fusão, o fato é que o mesmo parece ter sido vitorioso, pois em maio de 1967, os proprietários das duas empresas anunciaram a aquisição de uma outra sala, o Cine Fátima, que se encontrava desativado há alguns meses e que a partir de então passaria a integrar o circuito Avenida – Vera Cruz.
Ainda no ano de
Até março de 1968, os dirigentes do Circuito Brasil Central continuaram investindo em campanhas publicitárias ou eventos paralelos que contribuíssem para a divulgação do empreendimento. Contudo, a partir desta data, os primorosos anúncios até então predominantes, foram completamente suspensos e a propaganda resumiu-se a breves referências sobre o filme
“Tem sido freqüente a reclamação de que nossos cinemas não oferecem quase nenhuma condição de serem freqüentados normalmente pelas famílias. E isso vem sendo constatado pelos jornais. A algazarra, os gracejos e até mesmo a balbúrdia fazem com que nossos cinemas sejam os últimos locais de entretenimento (...). Com o adventos da televisão a freqüência nos cinemas está cada vez mais reduzida e os poucos que ainda vão às essas casas de espetáculo voltam decepcionadas para casa...”[10]
Ainda que um dos proprietários do Vera Cruz, Alexandrino Alves do Santos, tenha contestado essa crítica relativa ao problema da freqüência, não se pode negar que parece ter havido um arrefecimento da atividade no município, pois os jornais, que são os grandes veículos divulgadores dos filmes e dos próprios espaços culturais, reduziram consideravelmente o espaço dedicado à programação de cinema e, por vezes, observa-se uma descontinuidade no registro dos filmes em exibição, o que pode ser visto com um gesto sintomático do desinteresse dos periódicos relativamente a esta atividade.
Neste contexto, a pesquisa em jornais mostra-se pouco profícua do ponto de vista heurístico já que traz pouca ou nenhuma informação relevante para um trabalho histórico sobre a criação e manutenção de uma casa de espetáculos. Por esta razão, julgamos ser inútil apresentar listas de programação que nada acrescentam à história construída do prédio, que inclusive não sofreu transformações profundas neste período de 15 anos. Além disso, devemos ponderar que em certos casos é impossível esclarecer alguns aspectos obscuros da história de um prédio cujo uso manteve-se inalterado durante um longo tempo, visto que permanências e incógnitas são inerentes à história da cidade de um modo geral, uma história que se constrói segundo um itinerário nem sempre recuperável pelo historiador, e que somente se revela fragmentariamente, em situações excepcionais de mudança.
A história particular do Teatro Grande Otelo é permeada por estas ausências e é, por assim dizer, difícil construir um corpus documental que possibilite reconstituir a história que se faz e se esfacela diariamente. Por este motivo, longo foi o tempo de esquecimento, até que novos acontecimentos trouxessem à tona os fatos relacionados à fundação do prédio, permitindo que as pessoas soubessem de sua existência e se conscientizassem de sua importância cultural. Tais acontecimentos tiveram lugar em 1984, ano de criação da Secretaria Municipal de Cultura. Com a implantação de uma nova gestão democrática, surgiu a preocupação em se promover e incentivar os valores culturais próprios da região e, com isso, corporifica-se a idéia de investimento na cultura local e na criação de projetos que possibilitassem o desenvolvimento das potencialidades culturais aqui gestadas. Uma das ações empreendidas com esse objetivo foi a criação do Teatro Grande Otelo, que tornar-se-ia possível mediante a adaptação do antigo cinema, que se encontrava desativado desde
O projeto de reforma e adaptação da sala foi elaborado por Ricardo Pereira, então arquiteto da Secretaria Municipal de Cultura, sendo que a coordenação da obra ficou a cargo de Haroldo Gilbert Marinho Júnior, então engenheiro da Secretaria Municipal de Obras, que afirmou que a reforma conferiu ao prédio as condições mínimas para o funcionamento de um teatro e que, a partir de então, o palco estaria disponível para apresentações de peças teatrais, danças, shows e exibição de filmes. As obras foram concluídas em 1985 e, dentre as intervenções realizadas, podemos citar: “...reforma de 360 cadeiras, revestimento das paredes internas com isolantes acústicos, palco com estrutura metálica, passarela para sustentação de equipamentos operacionais, reforma de parcela da ventilação, execução de dois camarins com instalações sanitária na lateral do prédio.”[11]
Em 30 de junho deste mesmo ano, o Teatro Vera Cruz foi inaugurado. Das solenidades participaram o Coral da UFU e Iolanda de Lima Freitas, Secretária Municipal de Cultura na época, que proferiu discurso.
Em 1993, as atenções voltaram-se mais uma vez para o teatro. Dessa vez, o motivo foi o debate em torno da mudança de denominação. A idéia de alterar o nome do teatro adveio do interesse demonstrado pelos políticos locais em homenagear o ator Grande Otelo, uma grande personalidade das artes cênicas brasileiras, nascido em Uberlândia e que daqui se mudou ainda jovem, tornando-se nacionalmente conhecido por suas atuações nas chanchadas, filmes humorísticos de notável apelo popular, nos quais contracenou com o célebre Oscarito e outros grandes atores brasileiros (ver em anexo a biografia do ator Grande Otelo). O projeto de alteração de nome foi aprovado na Câmara e a casa passou a denominar-se Teatro Grande Otelo.
Para comemorar essa nova fase que nascia com a nova denominação, a Secretaria de Cultura planejou uma série de eventos para o período compreendido entre os dias 12 e 15 de novembro de 1993, quando também realizar-se-ia a Festa do Rosário, uma das manifestações culturais mais expressivas desta cidade. Na programação, estava incluída a visita do próprio Grande Otelo, que, no entanto, não compareceu devido a problemas de saúde. Pouco tempo depois, em 30 de agosto de 1993, o ator veio a falecer na cidade de Paris, onde receberia homenagens.
[1] Jornal Correio de Uberlândia. Uberlândia, Terça / Quarta-feira, 30/31 de Agosto de 1966, nº 10287. P. 1.
[2] Ver: Jornal Correio de Uberlândia. Uberlândia. Sexta-feira / Sábado, 2/3 de setembro de 1966, nº 10289, p. 6,
[3] Jornal Correio de Uberlãndia. Uberlândia. Ano XXVIII, nº 10.143, 07 de Janeiro de 1966. S/ autor, p.1.
[4] Jornal Correio de Uberlândia, não XXIX, nº 10271, 2/3 de Agosto de 1966. Coluna Pessoas & Firmas, p. 5
[5] Jornal Correio de Uberlândia, ano XXIX, nº 10.287, 30/31 de Agosto de 1966. S/ autor, manchete, p. 1.
[6] Jornal Correio de Uberlândia, ano XXIX, nº 10..304, 29 de Setembro de 1966. Seção Divertimentos, p. 2.
[7] Jornal Correio de Uberlãndia, ano XXIX, nº 10315, 18 e 19 de Outubro de 1966. Seção Divertimentos, p.2.
[8] Jornal Correio de Uberlândia, ano XXX, nº 10394, 5 e 6 de Março de 1967. Seção Divertimentos, p. 2.
[9] Ver: Jornal Correio de Uberlândia, ano XXX, Nº 10.516, 10, 11 De Outubro de 1967. Seção Divertimentos.
[10] Jornal Correio de Uberlândia, não XXXI, nº 10.639, 14/15 de Maio de a968. Manchete, p. 1.
[11] Jornal Correio, 28 de Agosto de 1996, Revista: “Mutirão para lavar a alma.”, p. 1.
Sebastião Bernardes de Souza Prata nasceu em 18 de outubro de 1915, em Uberlândia – Minas Gerais. “Quando o pai morreu esfaqueado e a mãe – cozinheira que trabalhava com um copo de cachaça ao lado do fogão – casou outra vez, ele aproveitou a visita de uma companhia de teatro mambembe a Uberlândia para escapulir. A diretora do grupo, Abigail Parecis, o adotou e o levou para São Paulo. Em seu novo lar, tinha a tarefa de levar a filha de D. Abigail às aulas de piano. Mas Otelo fugiu de novo e, após várias entradas e saídas no Juizado de Menores, foi adotado pela família de Antônio de Queiroz, político influente na época.” (www.istoe.com.br).
Queiroz colocou-o no Colégio Sagrado Coração de Jesus de padres salesianos, onde estudou até a terceira série ginasial. A família adotiva sonhava torna-lo advogado, mas Otelo batia o pé: ia ser artista.
Em 1932, entrou para a Companhia Jardel Jércolis, quando ganhou o apelido que o consagrou. Os amigos o chamavam Pequeno Otelo, por razões óbvias (ele tinha apenas 1,50m de altura), mas ele preferiu o pseudônimo The Great Otelo, em inglês, o que era moda na época. Posteriormente, esse apelido foi traduzido para o português.
Começava assim a carreira de um dos maiores atores brasileiros, que passou pelos palcos dos cassinos e dos grandes shows das mais importantes casas noturnas do Rio de Janeiro. Passou também pelo teatro, pelo cinema e pela televisão, deixando sempre a lembrança de personagens marcantes.
Sua principal atividade foi o cinema. Apareceu pela primeira vez na tela
O sucesso se consolidou ao formar dupla com outro grande mito do cinema nacional: Oscarito. Juntos, participaram de mais de dez chanchadas como Carnaval no Fogo, Aviso aos Navegantes e Matar ou Correr.
Mas ele não era apenas comediante. Como ator dramático, marcou presença em vários filmes, dentre os quais Lúcio Flávio – Passageiro da Agonia e Rio, Zona Norte. Em 1982, participou do filme Fitzcarraldo, do alemão Werner Herzog, filmado na selva, no Peru.
Grande Otelo faleceu em 1993, às vésperas de seus 78 anos, de um ataque do coração. Havia desembarcado em Paris, a caminho do Festival dos Três Continentes, em Nantes, onde receberia uma homenagem.